sábado, 6 de setembro de 2014

Neuroproteção com Nimodipina

Um medicamento que pode ser utilizado “simplesmente” para proteção cerebral.
O tema neuroproteção com a farmacologia ainda é bem discutida e promove vários estudos. A principal causa da discussão é o êxito na experiência com animais de laboratório e a dificuldade da aplicação em humanos.

A neuroproteção pode ser definida como uma intervenção, não necessariamente farmacológica, para interferir diretamente nos mecanismos intracelulares da cascata isquêmica, visando o resgate da área de penumbra - definida como área de hipoperfusão, ainda viável, circunjacente ao infarto (área de necrose).

Molécula da NIMODIPINA
Nimodipina é um antagonista do cálcio com um efeito neuroprotetor, tornando-se uma terapia promissora para comprometimento cognitivo vascular e demência.
Uma das principais características da nimodipina é a alta lipossolubilidade, com isso ela é geralmente utilizada como relaxante de vasos cerebrais (tem uma provável seletividade para vasculatura cerebral).
As células neuronais do sistema nervoso central são susceptíveis a várias formas de insulto tais como isquemia e hemorragia. Cada passo ao longo da cascata isquêmica é um alvo potencial para a intervenção terapêutica. Fármacos neuroprotetores são projetados para tornar mínima a lesão celular e tecidual, conseqüentemente promovendo um resgate cerebral.
Na isquemia cerebral, apenas trombólise tinha sido mostrado para melhorar o resultado clínico.
Segundo Chua HC, em seu estudo Neuroportection in acute stroke confirma que a terapia neuroprotetora tem vantagens concretas em animais, mas não em humanos. O que pode acontecer é um eventual aumento na janela de tempo para a trombólise. Em aneurisma hemorragia subaracnóidea, o único agente com eficácia comprovada é a nimodipinaA nimodipina algumas vezes é utilizada na esperança de reduzir o vasoespasmo cerebral que ocorre após hemorragia subaracnóidea.

Fisiologicamente podemos explicar a lesão cerebral da seguinte forma: O impedimento do fluxo sanguíneo ao cérebro inicia a cascata de eventos de lesão cerebral, isto promove, por sua vez, a eventos tardios, incluindo edema e inflamações cerebrais, que podem também contribuir para a lesão cerebral.
Uma lesão cerebral posterior pode ocorrer após a reperfusão, por causa da produção de espécie reativa de oxigênio (ROS), quando a oxigenação é restaurada. A lesão por reperfusão pode ser um componente importante em paciente com AVC.  Os eventos tardios (secundários) com freqüência demoram horas para se desenvolverem e podem proporcionar expectativa para a intervenção terapêutica.
 
Figura 1. Rang & Dale (modificada).
Mecanismos da excitotoxicidade. Os receptores da membrana, os transportadores e canais iônicos, identificados por números de 1 - 8 , são abordados no texto. Locais possíveis da ação dos fármacos neuroprotetores (ainda não provados para uso clínico) estão realçados. Os mecanismos à esquerda (vermelho) são os que favorecem a morte celular, enquanto que os à direita (azul) são os protetores.





Exemplificando: A oclusão de uma artéria cerebral principal irá promover rapidamente uma área focal de necrose irreversível. Ao redor desse foco será desenvolvida a área de penumbra (inflamação e a morte celular apoptótica desenvolvem-se por um período de várias horas). Supõe-se que as terapias neuroprotetoras aplicadas dentro de poucas horas, possam inibir esta lesão secundária da penumbra.
A excitotoxicidade do glutamato desempenha papel decisivo na isquemia cerebral. A isquemia leva a ocorrência da despolarização dos neurônios e a liberação elevada de glutamato, com isso ocorre o acúmulo do íon cálcio, parcialmente como resultado de o glutamato agir sobre os receptores de N-metil-D-aspartato (N.M.D.A.), a entrada de Ca2+ e a morte celular que se segue à isquemia cerebral, sendo inibidas por fármacos que bloqueiam os receptores ou os canais de N.M.D.A. O óxido nítrico (NO) também se eleva, para níveis muito maiores do que podem ser produzidos pela atividade neuronal normal, promovendo uma ação tóxica ao invés de modular o sistema nervoso.

Concluímos então que a nimodipina produz um efeito acentuado sobre as artérias cerebrais, possivelmente por sua alta lipossolubilidade, o que lhe permite sua rápida passagem através da barreira hematoencefálica. Baseando-se em tais efeitos, é muito provável que a nimodipina possa prevenir o espasmo arterial cerebral em pacientes com hemorragia subaracnóidea.

OBS: “Na unidade de terapia intensiva neurológica, a coordenação entre cuidados respiratórios e  neuroproteção é de fundamental importância para evitar episódios de hipertensão intracraniana. A utilização de agentes sedativos e relaxantes musculares auxiliam durante aspirações traqueais e manipulações a beira do leito.” Dr. Gustavo Patriota.

REFERÊNCIA:

SAVITZ, S. I.; FISHER, M. Future of neuroprotection for acute stroke: In the aftermath of the SAINT trials. Annals of Neurology. Volume 61, Issue 5, pages 396–402, May 2007. LINK

CHUA, H.C.; NG, P.Y. Neuroprotection in acute stroke. Department of Neurology, National Neuroscience Institute. Annals of the Academy of Medicine, Singapore

BILOTTA F, GELB AW, STAZI E, TITI L, PAOLONI FP, ROSA G. Pharmacological perioperative brain neuroprotection: a qualitative review of randomized clinical trials. Br J Anaesth.  Jun.  2013.

PENGLIAN WANG, YONGJUN WANG, TAO FENG, XINGQUAN ZHAO, YONG ZHOU, YILONG WANG, WEIXIONG SHI, AND YI JU. Rationale and design of a double-blind, placebo-controlled, randomized trial to evaluate the safety and efficacy of nimodipine in preventing cognitive impairment in ischemic cerebrovascular events (NICE). BMC Neurol. 2012; 12: 88. Published online Sep 5, 2012.

ULRICH DIRNAGL, COSTANTINO IADECOLA AND MICHAEL A. MOSKOWITZ. Pathobiology of ischaemic stroke: an integrated view. Trends Neurosci. 1999. 22, 391–397.

PATRIOTA, G.C. Neuroproteção na unidade de terapia intensiva neurológica. Blog Neurointensivismo.

RANG & DALE. Farmacologia. 5 ed.

JAMES MANICA. Anestesiologia - Princípios e Técnicas. 3ed.

GOOLDMAN & GILMAN. As Bases Farmacológicas da Terapêutica. 10ed.

Por: Vernior Júnior
Acadêmico do quinto período de Medicina
Presidente da LIPANI

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