sábado, 16 de abril de 2016

Lesão Traumática dos Nervos Periféricos

O nervo periférico é constituído por prolongamentos das células nervosas (pelos axônios dos neurônios motores inferiores, localizados na coluna anterior da medula espinhal; pelos axônios dos neurônios do sistema nervoso autônomo, localizados nos gânglios simpáticos paravertebrais; ou por dendritos dos neurônios sensitivos, localizados nos gânglios das raízes dorsais), e por tecido de sustentação (células de Schwann e tecido conjuntivo). A unidade funcional do nervo periférico é a fibra nervosa, que é constituída por um prolongamento do neurônio (axônio ou dendrito), recoberto por uma delicada bainha denominada neurolema ou bainha de Schwann, que é o citoplasma das células de Schwann. Entre o axônio e o neurolema forma-se a bainha de mielina que apresenta espessura variável.
  • Classificação das lesões

As lesões do nervos foram classificadas em graus, baseados na intensidade do comprometimento das estruturas do nervo e na intensidade das manifestações clínicas
Lesão de Primeiro Grau (Neuropraxia) é decorrente de um bloqueio da transmissão do impulso nervoso no local lesado, geralmente consequente a um processo de compressão intrínseca ou extrínseca, de curta duração e que provoca uma anóxia local nos neurônios, por compressão dos vasos sanguíneos. Caracterizada unicamente por interrupção da condução nervosa por uma lesão da bainha de mielina do nervo. Envolve um bloqueio da condução de uma área local, com ou sem anormalidades histológicas presentes, que podem incluir a desmielinização segmentar sem anormalidades axonais, com recuperação rápida e completa
Lesão de Segundo Grau (Axonotmese) Caracteriza-se pela presença de degeneração walleriana distalmente ao local da lesão e, em pequena extensão, proximalmente à lesão, com adelgaçamento dos axônios em alguns centímetros do coto proximal. Geralmente ela é produzida por uma compressão mais intensa ou mais prolongada, das arteríolas e da drenagem venosa neural, que causa um um aumento da pressão intraneural suficiente para bloquear completamente a passagem dos influxos de nutrientes através do axoplasma.
Lesões de Terceiro a Quinto Graus (Neurotmese) Nestes graus estão incluídas as lesões em que há algum comprometimento da estrutura de sustentação conjuntiva do nervo que, associada à lesão axonal, caracteriza o quadro de neurotmese. As lesões com aparente continuidade do tronco nervoso, mas com comprometimento total dos elementos neurais, são tão frequentes quanto as transeções. A lesão do terceiro grau verifica-se dentro do fascículo nervoso, na qual o tubo de endoneuro também é secionado; a lesão de quarto grau ocorre quando o fascículo é gravemente comprometido ou secionado, com ruptura do perineuro e, a lesão de quinto grau caracteriza-se pela ruptura completa do tronco nervoso, incluindo o epineuro.
Lesões Mistas Geralmente, nas lesões que ocorrem na prática clínica, num segmento de nervo comprometido podem coexistir diferentes graus de lesão, desde neuropraxia até a neurotmese, que poderão resultar em recuperação funcional variável, dependendo da gravidade do comprometimento.


  • A lesão nervosa periférica

Diversas podem ser as causas de lesões de nervos periféricos. Cada vez mais estas lesões tornam-se frequentes na rotina dos atendimentos de urgência dos hospitais em consequência do aumento da violência urbana, dos acidentes de trânsito, acidentes profissionais e domésticos. Os nervos periféricos estão sujeitos a traumas em muitas áreas do corpo e com uma ampla variedade de causas e estima-se que cerca de 5% dos pacientes atendidos em centros de atendimento ao trauma apresentem lesão ou ruptura de um nervo periférico ou plexo

Laceração e Contusão
São causadas por instrumentos penetrantes, por fragmentos ósseos resultantes de fraturas e por arma de fogo. Nos ferimentos por instrumentos penetrantes e por fragmentos ósseos é causada diretamente pelo agente, no momento do trauma. Nas lesões por arma de fogo, o nervo é deslocado abruptamente para fora do seu trajeto, na passagem do projetil e, em seguida, retorna à posição original. Por isto, os ferimentos por arma de fogo resultam, não somente em contusão local, mas também, em ruptura interna dos axônios e do tecido conjuntivo de sustentação.
 Estiramento-Tração
 Geralmente acontecem durante movimentos exagerados na articulação do ombro, com ou sem luxação articular ou fratura do úmero ou da clavícula. Os elementos inferiores também são atingidos com maior freqüência, embora os elementos inferiores também possam ser comprometidos. Apesar de geralmente ocorrerem em traumatismos fechados, todos os graus de lesões podem acontecer, desde a avulsão de raízes da medula até a lesão de um tronco, que permanecem em continuidade e que pode apresentar, predominantemente, axonotmese ou neurotmese.
Compressão / Isquemia
Ocorre em várias situações, por pressão externa (posturas viciosas, compressão por torniquetes ou por talas de gesso), ou por posturas extremas durante anestesias para cirurgias, ou durante o sono anormal induzido por intoxicações exógenas. As lesões observadas por isquemia variam desde alterações discretas da mielinização até a degeneração walleriana completa

  • Manifestações Clínicas

As alterações clínicas decorrentes de lesões dos nervos periféricos são os déficits da movimentação, da sensibilidade e alterações autonômicas, originárias da interrupção funcional ou anatômica dos prolongamentos celulares neles contidos.


Referências

FLORES, L,P. Estudo epidemiológico das lesões traumáticas de plexo braquial em adultos. Arq Neuropsiquiatr, v. 64, n. 1, p. 88-94, 2006.

MARTINS, R.S et al. Traumatic injuries of peripheral nerves: a review with emphasis on surgical indication. Arquivos de neuro-psiquiatria, v. 71, n. 10, p. 811-814, 2013.

DA SILVA, C.K; CAMARGO, E.A. Mecanismos envolvidos na regeneração de lesões nervosas periféricas. Saúde e Pesquisa, v. 3, n. 1, 2010.

Por: Jeanina Cabral
Acadêmica de Medicina
Membro da LIPANI

sábado, 9 de abril de 2016

Cefaleia em salvas

cefaleia em salvas é uma variante das cefaléias vasculares, sendo consideravelmente mais rara que a enxaqueca. É provavelmente a mais dramática e intensa forma de cefaleia que o homem conhece, e freqüentemente é confundida com a neuralgia do trigêmeo, sinusite e até com a cefaleia psicogênica. Daí sua importância clínica.
Este tipo de cefaleia, que evolui em surtos, costuma ter início nos indivíduos de meia-idade. Predomina no sexo masculino numa proporção que chega até 6:1. A cefaleia caracteriza-se por ser paroxística unilateral (comumente localizada nas regiões temporal e ocular) e de grande intensidade. A dor, que rapidamente atinge o seu clímax, pode assumir o caráter de queimação, agulhada ou, então, apresentar-se sob a forma perfurante ou dilacerante; às vezes se associa um componente pulsátil. Nem sempre o doente consegue definir bem o tipo de dor.
O diagnóstico da cefaleia em salvas, eminentemente clínico, se impõe pelo quadro álgico intenso e unilateral, onde as crises podem durar 10 minutos a 2 horas e costumam incidir mais de uma vez nas 24 horas, sendo freqüente pelo menos uma crise noturna que habitualmente se instala 1 a 2 horas após o adormecimento do indivíduo. No final da crise a dor se atenua e acaba por desaparecer, podendo, contudo, permanecer um fundo de desconforto por algum tempo na região acometida.
Como manifestações associadas são encontradas com frequência lacrimejamento, congestão ocular e rubor na região afetada, além de obstrução nasal uni ou bilateral. Os vômitos raramente ocorrem. Em alguns casos pode ser observada a síndrome de Claude Bernard-Horner, de modo transitório. Os períodos de crise podem durar de 2 a 6 semanas, ou mesmo mais, sendo comuns longos períodos de acalmia (esses períodos intercríticos podem durar até anos). Existem formas crônicas deste tipo de cefaleia, com duração prolongada dos surtos (vários meses).
Os principais fatores desencadeantes da cefaleia em salvas são as bebidas alcoólicas, as drogas vasodilatadoras (histamina, nitroglicerina) e a fase REM do sono.
Uma das maneiras de tratar uma crise de cefaleia em salvas é através da inalação de oxigênio a 100%, durante 15 minutos (não serve ar comprimido, precisa ser oxigênio). De cada 4 sofredores, 3 obtêm alívio rápido, em questão de poucos minutos, da crise de cefaleia em salvas mediante a inalação de oxigênio, em fluxo máximo, com a máscara bem apertada. Mas possui a desvantagem de não prevenir as crises, apenas aliviar a crise que já está acontecendo.
Também existem medicamentos que podem ser utilizados diariamente para prevenção, ou seja, no intuito de diminuir a frequência, intensidade e duração das crises de cefaleia em salvas propriamente ditas. Dentre eles estão o verapamil (e outros bloqueadores de canais intracelulares de cálcio), o lítio, o valproato e a metilergonovina, entre outros, que o médico prescreve no intuito de espaçar as crises, torná-las mais brandas caso sobrevenham, e mais fáceis de combater.
Figura 1: Paciente diagnosticada com cefaleia em salvas atendida no HEETSHL.
Existe também o tratamento cirúrgico para cefaleia em salvas, com o objetivo de cortar e interromper a passagem dos estímulos dolorosos em direção ao cérebro. O tratamento cirúrgico é indicado apenas para aqueles casos que não melhoram com o tratamento farmacológico, ou cujas reações adversas aos medicamentos não permitem o tratamento adequado. A cirurgia consiste em destruir as vias neuronais supostamente responsáveis pela dor. O efeito a curto e longo prazo do procedimento cirúrgico para cefaléia em salvas depende de cada caso.


REFERÊNCIAS
SANVITO, Wilson Luiz; TILBERY, Charles Peter. Cefaleia em salvas: aspectos clinicos e terapeuticos em 26 casos. Arq. Neuro-Psiquiatr.,  São Paulo ,  v. 38, n. 4, p. 375-384,  Dec.  1980 .   Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0004282X1980000400007&lng=en&nrm=iso>. Acesso em  09  abril  2016. 
FELDMAN, Alexandre. Cefaleia em Salvas – A Dor de Cabeça Mais Forte Que Existe. Disponível em < http://www.enxaqueca.com.br/blog/cefaleia-em-salvas/ >. Acesso em 09 abril 2016.

Por: Rodrigo Moreira
Acadêmico de Medicina
Membro da LIPANI