O
nervo periférico é constituído por prolongamentos das células nervosas (pelos
axônios dos neurônios motores inferiores, localizados na coluna anterior da
medula espinhal; pelos axônios dos neurônios do sistema nervoso autônomo,
localizados nos gânglios simpáticos paravertebrais; ou por dendritos dos
neurônios sensitivos, localizados nos gânglios das raízes dorsais), e por
tecido de sustentação (células de Schwann e tecido conjuntivo). A unidade
funcional do nervo periférico é a fibra nervosa, que é constituída por um
prolongamento do neurônio (axônio ou dendrito), recoberto por uma delicada
bainha denominada neurolema ou bainha de Schwann, que é o citoplasma das
células de Schwann. Entre o axônio e o neurolema forma-se a bainha de mielina
que apresenta espessura variável.
- Classificação das lesões
As
lesões do nervos foram classificadas em graus, baseados na intensidade do
comprometimento das estruturas do nervo e na intensidade das manifestações
clínicas
Lesão de Primeiro Grau (Neuropraxia) é
decorrente de um bloqueio da transmissão do impulso nervoso no local lesado,
geralmente consequente a um processo de compressão intrínseca ou extrínseca, de
curta duração e que provoca uma anóxia local nos neurônios, por compressão dos
vasos sanguíneos. Caracterizada unicamente por interrupção da condução nervosa
por uma lesão da bainha de mielina do nervo. Envolve um bloqueio da condução de
uma área local, com ou sem anormalidades histológicas presentes, que podem
incluir a desmielinização segmentar sem anormalidades axonais, com recuperação
rápida e completa
Lesão de Segundo Grau (Axonotmese)
Caracteriza-se pela presença de degeneração walleriana distalmente ao local da
lesão e, em pequena extensão, proximalmente à lesão, com adelgaçamento dos
axônios em alguns centímetros do coto proximal. Geralmente ela é produzida por
uma compressão mais intensa ou mais prolongada, das arteríolas e da drenagem
venosa neural, que causa um um aumento da pressão intraneural suficiente para
bloquear completamente a passagem dos influxos de nutrientes através do
axoplasma.
Lesões de Terceiro a Quinto Graus
(Neurotmese) Nestes graus estão incluídas as lesões em
que há algum comprometimento da estrutura de sustentação conjuntiva do nervo
que, associada à lesão axonal, caracteriza o quadro de neurotmese. As lesões
com aparente continuidade do tronco nervoso, mas com comprometimento total dos elementos
neurais, são tão frequentes quanto as transeções. A lesão do terceiro grau
verifica-se dentro do fascículo nervoso, na qual o tubo de endoneuro também é
secionado; a lesão de quarto grau ocorre quando o fascículo é gravemente
comprometido ou secionado, com ruptura do perineuro e, a lesão de quinto grau
caracteriza-se pela ruptura completa do tronco nervoso, incluindo o epineuro.
Lesões Mistas
Geralmente, nas lesões que ocorrem na prática clínica, num segmento de nervo
comprometido podem coexistir diferentes graus de lesão, desde neuropraxia até a
neurotmese, que poderão resultar em recuperação funcional variável, dependendo
da gravidade do comprometimento.
- A lesão nervosa periférica
Diversas
podem ser as causas de lesões de nervos periféricos. Cada vez mais estas lesões
tornam-se frequentes na rotina dos atendimentos de urgência dos hospitais em
consequência do aumento da violência urbana, dos acidentes de trânsito, acidentes
profissionais e domésticos. Os nervos periféricos estão sujeitos a traumas em
muitas áreas do corpo e com uma ampla variedade de causas e estima-se que cerca
de 5% dos pacientes atendidos em centros de atendimento ao trauma apresentem
lesão ou ruptura de um nervo periférico ou plexo
Laceração e Contusão
São
causadas por instrumentos penetrantes, por fragmentos ósseos resultantes de
fraturas e por arma de fogo. Nos ferimentos por instrumentos penetrantes e por
fragmentos ósseos é causada diretamente pelo agente, no momento do trauma. Nas
lesões por arma de fogo, o nervo é deslocado abruptamente para fora do seu
trajeto, na passagem do projetil e, em seguida, retorna à posição original. Por
isto, os ferimentos por arma de fogo resultam, não somente em contusão local,
mas também, em ruptura interna dos axônios e do tecido conjuntivo de
sustentação.
Estiramento-Tração
Geralmente acontecem durante movimentos
exagerados na articulação do ombro, com ou sem luxação articular ou fratura do
úmero ou da clavícula. Os elementos inferiores também são atingidos com maior
freqüência, embora os elementos inferiores também possam ser comprometidos.
Apesar de geralmente ocorrerem em traumatismos fechados, todos os graus de
lesões podem acontecer, desde a avulsão de raízes da medula até a lesão de um
tronco, que permanecem em continuidade e que pode apresentar,
predominantemente, axonotmese ou neurotmese.
Compressão / Isquemia
Ocorre
em várias situações, por pressão externa (posturas viciosas, compressão por
torniquetes ou por talas de gesso), ou por posturas extremas durante anestesias
para cirurgias, ou durante o sono anormal induzido por intoxicações exógenas.
As lesões observadas por isquemia variam desde alterações discretas da
mielinização até a degeneração walleriana completa
- Manifestações Clínicas
As
alterações clínicas decorrentes de lesões dos nervos periféricos são os déficits
da movimentação, da sensibilidade e alterações autonômicas, originárias da
interrupção funcional ou anatômica dos prolongamentos celulares neles contidos.
Referências
FLORES, L,P. Estudo epidemiológico das lesões traumáticas de plexo braquial em adultos. Arq Neuropsiquiatr, v. 64, n. 1, p. 88-94, 2006.
MARTINS, R.S et al. Traumatic injuries of peripheral nerves: a review with emphasis on surgical indication. Arquivos de neuro-psiquiatria, v. 71, n. 10, p. 811-814, 2013.
DA SILVA, C.K; CAMARGO, E.A. Mecanismos envolvidos na regeneração de lesões nervosas periféricas. Saúde e Pesquisa, v. 3, n. 1, 2010.
Por: Jeanina Cabral Acadêmica de Medicina Membro da LIPANI |
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