O
plexo braquial (PB) é uma região particularmente crítica do sistema nervoso
periférico quanto à sua exposição ao trauma. Devido as suas especiais relações
anatômicas com as estruturas móveis do pescoço e do ombro, pode ser envolvido
quando os vetores de força provocam tração sobre essas estruturas. Além disso,
devido à sua relativa falta de proteção muscular e óssea, pode também ser
lesado por ferimentos penetrantes desta região. Estudos americanos e europeus
demonstram que 10% a 20% das lesões do sistema nervoso periférico envolvem o
plexo braquial. Dessas, de 80 a 90% são devidas aos traumas
auto/motociclísticos, que geram mecanismos de tração sobre o pescoço e ombro.
Porém, existem poucos estudos epidemiológicos na literatura mundial a respeito
do trauma desta estrutura e, especialmente, existem poucas estatísticas
brasileiras sobre o tema.
As quedas de moto nos adultos e
os tocotraumatismos nos recém-nascidos são as principais causas de acometimento
traumático do plexo braquial. FLORES et al.¹, em
um estudo com 35 pacientes, verificou que há predomínio no sexo masculino (85%)
e em pacientes com menos de trinta anos (85%). O estudo observou ainda que o
plexo braquial direito foi mais acometido que o esquerdo (57%).
O diagnóstico desta patologia é
feito através do exame físico, e de exames como ENMG, neurocondução, potencial
evocado somatossensitivo (PESS) e ressonância magnética.
As lesões traumáticas de nervos
periféricos em geral são graduadas de acordo com sua gravidade. Na maioria dos
casos, o nervo lesado permanece em continuidade. Dessa forma, três situações
distintas podem ocorrer:
·
NEUROPRAXIA:
Os nervos e os axônios permanecem em continuidade. Certas funções (sensitivas e
simpáticas) podem estar normais. É esperada a recuperação em semanas. O exame
de eletroneuromiografia (ENMG) não evidencia nenhuma alteração de desnervação.
·
AXONOTMESE:
A bainha de Schwann apresenta-se íntegra, mas os axônios estão seccionados.
Toda a função neurológica (motora, sensitiva e autonômica) é perdida e, à ENMG,
observam-se alterações de desnervação. Ocorre a degeneração Walleriana distal e
o nervo é capaz de se regenerar 1 a 2 mm por dia, sem intervenção
neurocirúrgica. Sabe-se que a placa motora (junção neuromuscular), se permanecer
por períodos muito prolongados (seis meses a um ano) sem receber fatores
tróficos do nervo são, poderá não ser mais viável quando o nervo se recuperar
total e espontaneamente. Portanto, o prognóstico de recuperação espontânea da AXONOTMESE
relaciona-se com a distância entre o traumatismo e o músculo inervado. O sinal
de Tinel é caracterizado por uma sensação de choque obtida pela percussão
rápida e suave do nervo; indica regeneração das fibras sensitivas. O sinal pode
ser obtido no local da lesão. O sinal progride para a extremidade conforme
ocorre a regeneração destas fibras sensitivas. Não se pode garantir que as
fibras motoras seguirão a mesma recuperação.
·
NEUROTMESE:
o nervo é totalmente desorganizado e pode estar seccionado. A reparação
cirúrgica restabelece a continuidade dos fascículos, viabilizando a regeneração
de 1 a 2 mm por dia.
Paciente vítima de
trauma de PB esquerdo.
Observe a discreta anisocoria com predomínio de miose à
esquerda devido à lesão associada de fibras simpáticas.
|
- · NEUROPRAXIA: tratamento clínico, excelente recuperação em semanas.
- · AXONIOTMESE: tratamento clínico, recuperação de semanas a meses.
- · NEUROTMESE: exploração cirúrgica: ressecar cicatriz e enxertar.
Além disso, é fundamental
ressaltar a importância da fisioterapia motora e da terapia ocupacional no
tratamento e reabilitação desses pacientes.
REFERÊNCIAS:
1. FLORES, Leandro
Pretto. Estudo epidemiológico das lesões traumáticas de plexo braquial em
adultos. Arq.
Neuro-Psiquiatr., São Paulo , v. 64, n. 1, p.
88-94, Mar. 2006 . Available from
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0004-282X2006000100018&lng=en&nrm=iso>.
access on 23 July 2016. http://dx.doi.org/10.1590/S0004-282X2006000100018.
2. NETTER, Frank H.. Atlas
de Anatomia Humana. 2ed. Porto Alegre: Artmed, 2000.
3. PINTO, Fernando Campos Gomes.
Manual de iniciação em neurocirurgia. – 2ª ed. – São Paulo: Santos, 2012.
Por: Samuel Trindade Acadêmico de Medicina Membro da LIPANI |
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