domingo, 18 de setembro de 2016

TUMORES INTRACRANIANOS: SINTOMATOLOGIA FOCAL

Os tumores do SNC podem ser malignos (primários e metastáticos) e benignos. No encéfalo, os tumores metastáticos são mais frequentes que os tumores primários. Os carcinomas de pulmão são a principal fonte de metástases para o encéfalo.
A incidência dos tumores intracranianos primários aumentou nas últimas décadas, provavelmente em virtude do aumento da vida média da população. A instalação dos sintomas geralmente é progressiva, e a identificação precoce das síndromes focais pode fazer a diferença no prognóstico desta patologia.
A seguir trataremos das síndromes focais mais comumente encontradas de acordo com a topografia lesional.

TUMORES FRONTAIS

  1. Lesões anteriores: acometem a área pré-motora, gerando, desde o início, transtornos cognitivo-comportamentais: distúrbios da atenção e/ou memória, apatia, desinteresse e bradipsiquismo.
  2. Lesões extensas e de convexidade: podem determinar falência das funções executivas. Estes pacientes não exteriorizam vontades ou desejos.
  3. Lesões do lóbulo orbitário: distúrbios do caráter e do humor: euforia, sarcasmo (moria).
  4. Lesões posteriores: manifestações motoras como hemiplegia e manifestações epilépticas.

Em tumores frontais volumosos o paciente pode evoluir com instabilidade motora (ataxia frontal) com tendência à retropulsão.

TUMORES PARIETAIS  

Distúrbios sensitivos: episódios parestésicos e/ou alteração das sensibilidades discriminativas, além de distúrbios apráxicos e do esquema corporal. O fenômeno da extinção pode estar presente. Anosognosia da hemiplegia e a hemissomatognosia caracterizam as lesões do lobo não dominante. Enquanto que a autotopognosia e síndrome de Gerstmann (agnosia digital, acalculia, agrafia e confusão lado esquerdo-direito) são achados frequentes de lesões no hemisfério dominante.

TUMORES TEMPORAIS

Lesões temporais esquerdas costumam ter clínica exuberante através de distúrbios de linguagem (afasia de compreensão). Em contra partida, tumores temporais direitos podem permanecer latentes por longos períodos e só virem a se revelar quando instalado um quadro de hipertensão intracraniana (HIC). O aparecimento de manifestações epilépticas é comum, generalizadas ou focais. Crises de déjà vu ou jamais vu também podem ocorrer.

TUMORES OCCIPITAIS

Os tumores desta topografia são raros. O sinal mais constante é a hemianopsia lateral homônima total e congruente.

TUMORES SELARES E PARASSELARES

Compreendem os tumores da hipófise e do hipotálamo. Além das manifestações endócrinas (acromegalia, amenorreia, diabetes insipidus, síndrome de Cushing, etc.), são comuns as manifestações visuais (diminuição da acuidade visual, hemianopsia bitemporal, quadrantanopsia, escotomas, atrofia ou edema de papila). Os tumores com expansão laterosselar podem envolver os nervos oculomotor e trigêmeo. Esses tumores podem determinar HIC.

OUTROS TUMORES DA FOSSA POSTERIOR

Lesões desta topografia costumam associar-se com HIC de instalação precoce, sinais cerebelares, envolvimento de nervos cranianos e de vias longas. Os tumores cerebelares hemisféricos frequentemente cursam com ataxia apendicular ou axial. Enquanto que as lesões vermianas cursam com ataxia axial. Tumores do ângulo pontocerebelar apresentam inicialmente envolvimento do VIII e V nervos cranianos. Com a progressão do quadro pode haver comprometimento do VII nervo.
A síndrome focal às vezes assume valor inestimável ao indicar a sede do tumor. Isto nem sempre ocorre porque nos hemisférios cerebrais existem áreas ditas “mudas”, cujo comprometimento não determinará, durante ou em parte da evolução, sinais e sintomas focais. As zonas costumeiramente “mudas”, do ponto de vista clínico, são constituídas pelas porções anteriores do lobo frontal direito ou esquerdo e pelo lobo temporal direito. Uma síndrome focal poderá conjugar sinais e sintomas e configurar um quadro regional altamente sugestivo de determinado tumor, fato que torna a sua identificação e correta caracterização fundamentais no manejo desta patologia.

REFERÊNCIAS:
  1. CUKIERT, Arthur; GRONICH, Gary; MARINO JR, Raul. Surgical approaches to tumors and epileptogenic zones close to Wernicke's area. Arq. Neuro-Psiquiatr.,  São Paulo ,  v. 53, n. 3b, p. 587-591,  set.  1995 .   Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0004-282X1995000400006&lng=pt&nrm=iso>. acessos em  28  ago.  2016.  http://dx.doi.org/10.1590/S0004-282X1995000400006.
  2. GASPARINI, Brenda; MONTEIRO, Gina Torres Rego; KOIFMAN, Sergio. Mortalidade por tumores do sistema nervoso central em crianças e adolescentes no Rio de Janeiro, Brasil, 1980-2009. Cad. saúde colet.,  Rio de Janeiro ,  v. 21, n. 3, p. 272-280,  Sept.  2013 .   Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-462X2013000300007&lng=en&nrm=iso>. access on  28  Aug.  2016.  http://dx.doi.org/10.1590/S1414-462X2013000300007.
  3. SANTOS, Alair Augusto S.M.D. dos et al . Meningiomas parasselares: aspectos na ressonância magnética. Radiol Bras,  São Paulo ,  v. 34, n. 1, p. 13-16,  fev.  2001 .   Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-39842001000100005&lng=pt&nrm=iso>. acessos em  28  ago.  2016.  http://dx.doi.org/10.1590/S0100-39842001000100005.
  4. SANVITO, Wilson Luiz. Breviário de condutas terapêuticas em neurologia. São Paulo: ATHENEU, 2015.
Por: Samuel Trindade
Acadêmico de Medicina
Membro da LIPANI

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