Por
definição, as fístulas carótido-cavernosas (FCC) são comunicações espontâneas
ou adquiridas entre artéria carótida interna (ACI) e o seio cavernoso (SC),
gerando, com isso, um shunt com
transmissão do fluxo e da pressão arterial para o seio cavernoso. Consequentemente,
ocorre uma reversão do fluxo nas veias que drenam para o SC, como também aumento
do fluxo sanguíneo nas suas vias de drenagem.
Vamos relembrar um pouco da anatomia do seio cavernoso...
O SC é um dos
mais importantes seios da dura-máter localizado na porção central da base do
crânio, situada lateralmente ao corpo do
esfenoide e da sela túrcica. Os nervos cranianos III, IV e os ramos oftálmico e maxilar do NC V
passam na parede lateral do SC. Além disso, é atravessado pelo segmento horizontal da ACI e pelo NC VI. Recebe sangue das veias oftálmica superior e central da retina, além de algumas
veias do cérebro (veias superfícies laterais do cérebro, p.e). Drena através
dos seios petroso superior e petroso inferior, além de comunicar-se
com o seio cavernoso contralateral por meio do seio intercavernoso.
Fonte: www.neuroinformação.blogspot.com
As relações anatômicas no interior do SC são causas de bastante controvérsia desde as descrições dos anatomistas clássicos até estudiosos da vanguarda científica, sendo mais bem compreendida após o advento do microscópio e da angiografia.
Geralmente, a veia oftálmica superior e a veia
oftálmica inferior são as primeiras a receber esse fluxo reverso, em razão de
possuírem menor gradiente de pressão. Os eventos fisiopatológicos que se seguem
a compressão elevada são: congestão venosa orbitária, transudato intersticial,
aumento da pressão intra-ocular pela dificuldade de drenar o humor aquoso.
Pode-se observar, então, limitações em relação aos movimentos dos músculos
extra-oculares seja devido ao edema de estruturas orbitárias ou compressão dos
NC.
As fístulas carótido-cavernosas têm sido classificadas sob
diferentes parâmetros com o objetivo de tentar abranger, ao máximo, os graus de
severidade dessa patologia. Pode-se descrever de acordo com a etiologia
(traumática ou espontânea) ou em relação à condição de fluxo (alta ou baixa).
Todavia, em relação ao prognóstico e manejo desses pacientes, essas
classificações podem ser incompletas. Atualmente, a categorização em uso entre
as disponíveis é a proposta por Barrow que se baseia no suprimento arterial
destas comunicações.
A tríade
clínica clássica das FCC é caracterizada por: sopro pulsátil, proptose e
hiperemia conjuntival. As consequências da reversão do fluxo para as veias
oftálmicas são: exoftalmia, paralisia dos NC, amaurose e dor orbital. Já a
hipertensão venosa nos seios da dura-máter pode levar ao surgimento de
cefaleias, hemorragias intracranianas ou sangramentos para o interior do seio
esfenoidal (epistaxe, em casos mais graves). O diagnóstico
é baseado na história clínica, no exame físico e nos exames de imagem
(angiografia é o método de escolha).
O tratamento
convencional é a embolização transarterial da ACI na tentativa de ocluir o
fluxo artério-venoso. O método endovascular tem taxa de sucesso em 85-97% dos
casos. A base do tratamento cirúrgico é realizar essa oclusão através de clipes
metálicos. Técnicas endovasculares podem complementar um tratamento cirúrgico
parcial e vice-versa.
Angiografia mostra duas
imagens em projeção lateral. Em A, fase de injeção do contraste e em B, a fase
tardia mostrando a drenagem para a veia oftálmica superior. (http://www.medicina.ufmg.br/imagemdasemana/caso20.html)
Por Djanino Fernandes da Silva
Acadêmico do sexto período de Medicina
Membro da LIPANI
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Referências
ORBA, Rover et al . Fístula
carótido-cavernosa com epistaxe letal: relato de caso.Arq. Neuro-Psiquiatr., São
Paulo, v. 59, n. 2A, June 2001.
VILELA, Manuel Augusto Pereira. Fístula
carotídeo-cavernosa. Rev. bras.oftalmol.,
Rio de Janeiro , v. 72, n. 1, Feb. 2013 .
Available from
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-72802013000100015&lng=en&nrm=iso>.
access on 05 Aug. 2014.
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