sábado, 23 de agosto de 2014

Avaliação neurológica do paciente com traumatismo raquimedular: escala ASIA.

INTRODUÇÃO

De acordo com as Diretrizes Assistenciais do Hospital Israelita Albert Einstein, traumatismo raquimedular (TRM) "é a lesão da medula espinhal que provoca alterações, temporárias ou permanentes, na função motora, sensibilidade ou função autonômica”. A lesão medular é um tipo de acidente altamente incapacitante e que muda a expectativa de vida do indivíduo lesado, bem como seus relacionamentos em seus círculos sociais, devido às mudanças de hábito: dependência, restrições e outros.

No Brasil, os dados são desconhecidos, mas dados estadunidenses apontam 55 casos por milhão de habitantes/ano somente nas zonas rurais, os quais se traduzem em 17.050 lesionados a cada ano. A maior incidência ocorre em adolescentes e adultos jovens, incapacitando parcela da população economicamente ativa. Dois terços dos TRM acometem a coluna cervical baixa (C3-C7).

HISTÓRIA E EXAME FÍSICO

  • Ao receber-se um paciente com TRM, deve-se seguir os seguintes passos na sala de emergência:
  1. Atendimento segundo o ATLS, com imobilização cervical e prancha rígida;
    1. Se paciente desacordado, considerá-lo com lesão cervical e realizar exames secundários de imagem.
    2. Se acordado, colher breve história para avaliar possibilidade de TRM.
  2. Mobilização em bloco;
  3. Retirada da prancha rígida assim que possível
    1. Após exames. Máximo de duas horas.
  4. Preencher ficha da escala ASIA.
  5. Internar o paciente aos cuidados especialistas.

Durante o exame neurológico secundário determinar em qual nível houve lesão. Atualmente, como padrão para fazer esta avaliação, utiliza-se a escala da ASIA (American Spinal Injury Association), que é dividida em quatro partes:

  1. Exame da motricidade;
  2. Exame da sensibilidade;
  3. Escala de Frankel modificada;
  4. FIM (functional independence measure) - aferição de independência funcional

Motricidade
O exame da motricidade é graduado de 0 a 5 pontos por grupo muscular

0.  sem contração muscular
1.  contração sem movimento
2.  movimento em plano horizontal sem vencer a força da gravidade
3.  movimento vence a força da gravidade, mas não resistência
4.  movimento vence resistência
5.  força muscular normal

Grupos musculares por raiz nervosa
C5
Flexão do cotovelo
C6
Extensão do punho
C7
Extensão de cotovelo e dedos
C8
Flexão dos dedos
T1
Abdução dos dedos
L2
Flexão do quadril
L3
Extensão do joelho
L4
Dorsiflexão do pé
L5
Extensão do hálux
S1
Flexão plantar


Sensibilidade
O exame da sensibilidade avalia os dermátomos e graduado de 0 a 2

0.  ausente
1.  presente com sensação de formigamento
2.  normal ou completo

Sensibilidade
C5
Área sobre m. deltoide
C6
Dedo polegar
C7
Dedo médio
C8
Dedo mínimo
T1
Face medial do antebraço
T2
Axila
T4
Mamilo
T6
Apêndice xifoide
T10
Umbigo
T12
Sínfise púbica
L4
Face medial da perna
L5
Espaço entre QDI e QDII
S1
Borda lateral do pé
S3
Área sobre tuberosidade isquiática
S4/S5
Região perianal

Escala de Frankel
Chamada pela ASIA de ASIA impairment scale (AIS), avalia o grau de deficiência do paciente com TRM.

Escala de Frankel
A
Completa - sem função motora
B
Incompleta - função sensitiva até S4/S5; sem função motora
C
Incompleta - há função motora e maioria dos músculos tem força inferior a grau 3
D
Incompleta - há função motora e maioria dos músculos tem força superior a grau 3
E
Normal

FIM
Avaliação funcional objetiva, infere a influência do TRM na independência do paciente para se alimentar, vestir-se, tomar banho e outras. Seu caráter é prognóstico.

CONSIDERAÇÕES

À primeira vista, percebe-se que a escala ASIA - adotada hoje em todo o mundo para pacientes com TRM - é extensa e complexa por ser composta por variáveis que envolvem conhecimentos básicos e específicos, mas esta é uma ferramenta crucial para tratamento e prognostico desses indivíduos, considerada padrão-ouro neste tipo de traumatismo. 

ANEXOS

Folha de preenchimento da escala ASIA, em inglês. Disponibilizada online pelo site da associação.




REFERÊNCIA

AMERICAN SPINAL INJURY ASSOCIATION. INTERNACIONAL STANDARDS FOR NEUROLOGICAL CLASSIFICATION OF SPINAL CORD INJURY - EXAM SHEET. Disponível em http://www.asia-spinalinjury.org/elearning/ISNCSCI_Exam_Sheet_r4.pdf. Acesso em 22/08/2014.

PINTO, F.C.G. MANUAL DE INICIAÇÃO EM NEUROCIRURGIA. Cap. 7. Cap. 23. 2 ed. São Paulo: Santos. 2012

HOSP. ISRAELITA ALBERT EINSTEIN. DIRETRIZES ASSISTENCIAIS. Fevereiro, 2012. Disponível em http://medsv1.einstein.br/diretrizes/ortopedia/Trauma_Raquimedular.pdf. Acesso 22/08/2014.

SANTOS, TSC. GUIMARÃES, R.M. BOEIRA, S.F. EPIDEMIOLOGIA DO TRAUMA RAQUIMEDULAR EM EMERGÊNCIAS PÚBLICAS NO MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO. Outubro 2012, disponíbel em http://www.scielo.br/pdf/ean/v16n4/15.pdf. Acesso 22/08/2014.

Wikipédia. ESTADOS UNIDOS. Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Estados_Unidos. Acesso 22/08/2014.


Publicado por Breno Guedes
Acadêmico de Medicina
Membro LIPANI


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