terça-feira, 28 de novembro de 2017

MEDICAMENTOS NEUROPROTETORES

Neuroproteção é uma intervenção, não necessariamente farmacológica, visando o resgate da área de penumbra - definida como área de hipoperfusão, ainda viável, circunjacente à área de necrose. Algumas medidas neuroprotetoras envolvem posicionamento da cabeça, controle estrito da temperatura corpórea, glicemia, hemodinâmica, oxigenação, homeostasia interna e utilização de fármacos.

Fármacos utilizados com essa finalidade são chamados de medicamentos neuroprotetores. Nos últimos anos, dezenas de agentes farmacológicos demonstraram eficácia em modelos animais, porém sem resultados efetivos quando utilizados em estudos controlados em seres humanos. As principais razões para esse insucesso incluem: modelos animais não superponíveis com a realidade da complexidade dos fatores envolvidos na doença humana; utilização de escalas clínicas incapazes de refletir o volume da área de infarto; janela terapêutica tardia; número de pacientes insuficientes; resultados discrepantes entre diferentes espécies e centros, entre outras.

Alguns medicamentos já estão mais bem estabelecidos para uso com o objetivo neuroprotetor. O mais conhecido deles é o sulfato de magnésio, associado à diminuição do risco de paralisia cerebral em prematuros extremos. Ele vem sendo estudado também para uso em pacientes com acidente vascular cerebral (AVC) agudo, com resultados promissores em animais, mas ainda sem benefícios comprovados em humanos.

Agentes antioxidantes também vêm sendo estudados como neuroprotetores. Até o presente momento, é um desses agentes – a citicolina – o único que apresentou eficácia comprovada por meta-análise para o uso em AVC isquêmico, quando usado nas primeiras 24 horas em pacientes com quadros moderados e graves (NIHSS > 8).

Na hemorragia subaracnoidea causada por rompimento de aneurisma, o único agente com eficácia comprovada é a nimodipina, um inibidor de canais de cálcio. Em pacientes com AVC isquêmico, porém, este agente e os gangliosídeos não tiveram seus efeitos favoráveis inicialmente obtidos em animais confirmados nos estudos com humanos. A nimodipina apresentou resultados conflitantes, especialmente quando administrada em altas doses, sendo por vezes associada a desfechos desfavoráveis.

Ainda quanto ao AVC isquêmico, o fasudil, um inibidor da Rho kinase, apresentou eficácia num grande ensaio clínico, passando a ser aprovado para uso em alguns países, mas não nos Estados Unidos, por exemplo.

Imunorreguladores (como o enlimomab), inibidores dos receptores de glutamato, óxido nítrico e agonistas gabaérgicos (GABA agonistas/Ácido gama-aminobutírico), como o clometiazol, falharam em apresentar benefícios em estudos de grande magnitude conduzidos recentemente.

Inúmeros outros fármacos são estudados atualmente, mas a maioria em estudos pré-clínicos. Suas classes são as mais variadas e os resultados, em geral, são promissores. Como exemplo, temos estrógeno, óleo de copaíba, fitoterápicos (como Gingko-biloba), vitamina E em doses elevadas, selegelina (inibidor da MAO-B), topiramato e outras drogas antiepilépticas, buspirona, albumina, gliburida, ácido úrico, fingolimod, natalizumab, minociclina (uma tetraciclina), eritropoietina e muitos anestésicos.

O uso de medicamentos neuroprotetores é destacado principalmente nos strokes, como pôde ser notado. Mas há evidências de que pode ser valioso também em doenças degenerativas, da doença de Parkinson, no glaucoma e em muitas outras. Assim, cada vez mais tais medicamentos são estudados e ganham destaque, constituindo uma importante área de pesquisa e de tratamento em ascensão.

Referências:


    FREITAS, G. R. DE et al. Neuroproteção no acidente vascular celebral: opinião nacional. Arq Neuropsiquiatr, v. 63, n. 3b, p. 889–891, 2005.

KARSY, M. et al. Neuroprotective strategies and the underlying molecular basis of cerebrovascular stroke. v. 42, n. April, p. 1–15, 2017.

WEN, B. et al. NIH Public Access. October, v. 454, n. 1, p. 42–54, 2007.

FERREIRA, P. B.; SANTOS, Í. M. DE S.; DE FREITAS, R. M. Aspectos farmacológicos, efeitos anticonvulsivantes e neuroprotetores da buspirona. Revista de Ciencias Farmaceuticas Basica e Aplicada, v. 33, n. 2, p. 171–179, 2012.

MARIGO, F. A.; CRONEMBERGER, S.; CALIXTO, N. Neuroproteção: Situação atual no glaucoma. Arquivos Brasileiros de Oftalmologia, v. 64, n. 2, p. 167–171, 2001.

SANTOS CASTRO, J. Magnesium sulfate for fetal neuroprotection, a review\r\nSulfato de magnésio para neuroproteção fetal,\r\numa revisão da literatura. v. 8, n. 4, p. 391–397, 2014.

STANCEL, C. L. E. Estrógeno versus isquemia cerebral: hormônio feminino como agente neuroprotetor. Interactions, p. 57–60, 2005. 




Por: Bruna Lisboa do Vale
Acadêmica de Medicina
Membro da Lipani

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